quinta-feira, 31 de março de 2011

Aumenta a quantidade de espécies introduzidas no litoral nordestino

Aumenta a quantidade de espécies introduzidas no litoral nordestino
Por Flora Leite

O aumento da quantidade de espécies introduzidas no litoral nordestino foi uma das constatações da tese de Doutorado em Oceanografia desenvolvida pela professora Cristiane Farrapeira, da UFRPE, sob a orientação da professora Deusinete Tenório (UFPE) e co-orientação da professora Fernanda Amaral (UFRPE). O estudo ressalta que macroinvertebrados foram transportados e inseridos de forma não intencional, nas áreas portuárias por meio de transporte no casco de embarcações e no momento do deslastre, ou seja, eliminação da água usada para equilibrar o navio.

O trabalho, denominado “Análise da biota portuária estuarina do nordeste brasileiro para a detecção de espécies introduzidas” teve início com estudos de casos específicos, chamados “rapid surveys” ou pesquisas rápidas, feitas em pilares e paredões portuários localizados no mediolitoral, área que compreende os estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O Porto de Natal, que tem considerável índice de exportação e, por consequência, de deslastres, obteve maior diversidade de invertebrados, enquanto o porto recifense, maior importador de cargas, apresentou pouca variedade de espécies introduzidas. Em Cabedelo, na Paraíba, os resultados foram intermediários. Segundo Cristiane Farrapeira, “os portos de Natal e Cabedelo são portos com salinidades altas, equivalentes às do ambiente marinho, apesar de estarem localizados em estuários” (onde se encontram rio e oceano). Enquanto isso, em Recife, a predominância das águas fluviais diminui a salinidade da água.

ANÁLISE - As amostras dessas localidades, medindo 25 X 25 cm, foram coletadas em pilares e paredões, entre as marcações de preamar (maré alta) e de baixamar (maré baixa). Após essa etapa, com o uso de um estereomicroscópio, as espécies foram enquadradas em dois tipos de status, o distribucional e o bioecológico. Na primeira categoria, elas foram classificadas em introduzidas (criptogênicas - do latim, “origem desconhecida” e exóticas), e em nativas. Já na segunda seleção, as provenientes da introdução foram categorizadas em invasoras ou estabelecidas, por se apresentarem ou não competitivamente dominantes, respectivamente.

As espécies exóticas, segundo a pesquisadora, “definidas como espécies que têm origem e distribuição original geograficamente distante do ponto de onde ela foi introduzida” e cujo “aparecimento só pode ser explicado de forma antropogênica”, obtiveram destaque, caracterizando o deslocamento de espécies internacionais para o litoral nordestino. Nesse âmbito, foram registradas as seguintes introduções: nemertino Zygonemertes virescens, nudibrânquio Doto rosea e pantópodo Pigrogromitus timsanus, conhecido como aranha-do-mar. Com relação à introdução dos invertebrados de uma parte a outra da costa brasileira, houve maior transporte de espécies da Região Sudeste para o Nordeste brasileiro.

Já as bioinvasoras encontradas foram: Cliona cellata, Dynamena crisioides, D.disticha, Nolella stipata, Zoobotryon verticillatum, Botrylloides nigrum, Didemnum perlucidum e Symplegma rubra- em Natal; Isognomon alatus, Striatobalanus amaryllis, Herdmania pallida e Didemnum psammatodes- em Cabedelo; Clytia linearis, Haliplanella lineata, Obelia dichotoma, O. geniculata, Mytilopsis leucophaeta, Sinelobus stanfordi e Bowerbankia gracilis- em Recife.

O estudo, iniciado em 2007, foi defendido com a finalização da tese em 23 de fevereiro deste ano, 2011. A banca foi composta pela orientadora, a professora Deusinete; pelo professor João Castro, da Universidade de Évora, em Portugal; pela professora Teresa Calado, da Universidade de Alagoas; pelo professor Múcio Banja, da Universidade de Pernambuco; além da Chefe do Departamento de Oceanografia da UFPE, professora Sigrid Leitão. Cristiane Farrapeira é graduada em Ciências Biológicas, tem mestrado em Oceanografia Biológica, doutorado em Oceanografia e atualmente leciona na Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Mais informações
Professora Cristiane Farrapeira
c.farrapeira@db.ufrpe.br
Laboratório de Cirripedia
Departamento de Biologia da UFRPE
(81) 3320.6335

Um comentário:

  1. Pena que essas coisas como ninguém vê a olho nú acha que está tudo indo muito bem abrigado.


    Agora tendo estes dados, será que tem estudos para saber o impacto disto?

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