domingo, 29 de julho de 2012

O BEAU GESTE DE MAURÍCIO RANDS



Clóvis Cavalcanti
Economista ecológico e pesquisador social; clovis.cavalcanti@yahoo.com.br

No deplorável episódio da nomeação paulista de um candidato do PT a prefeito do Recife, o esperado de um político com a formação acadêmica de Maurício Rands seria que, de modo civilizado, reconhecesse a vitória, na prévia do Partido, do prefeito João da Costa, retirando sua postulação. Não foi isso o que fez, submetendo-se ao carão que foi passado em São Paulo a ele e a seu opositor. Alijado aí do páreo, despareceu para uma reflexão sobre o fato. O prefeito, no seu indiscutível direito, tentou reverter a situação, visando mudar o revés que seus “superiores” – que não deveriam se considerar assim – lhe impuseram. Perdeu. Foi humilhado ao extremo. Maurício Rands, em contrapartida, aproveitou bem seu sumiço. A consciência lhe falou mais alto. Num gesto apreciável para quem vê na política o exercício da cidadania plena, desligou-se do PT. Mais: renunciou a seu mandato de deputado e afastou-se da vida pública. Fez o que os franceses chamariam de “beau geste”.
O inacreditável é que haja quem a isso considere como traição, usando o samba de Beth Carvalho para fazer supor que o PT tenha sempre dado a mão a Rands. Sou amigo de seu irmão Alexandre, competente economista, e fiquei sabendo algo de Maurício quando fui professor visitante na Universidade de Oxford (Grã-Bretanha), em 2000. Lá ele se doutorou – uma honra, sem dúvida, não acessível a tantos que desejariam estudar nessa formidável universidade, fundada há mais de 800 anos. Seu orientador, Hermínio Martins, sociólogo português, meu amigo, tinha sempre palavras positivas sobre o aluno. Por isso, não me surpreende o caminho que escolheu. Consegue, assim, pairar acima da mediocridade de políticos que, para o avanço da carreira, aceitam qualquer imposição. Na eleição de 2002, quando Rands foi candidato a deputado federal pela primeira vez, surpreendeu-me em Gravatá a mobilização de militantes a seu favor. Rands, ao lançar sua candidatura, disse que ia bancá-la com rendimentos próprios de seu ofício como advogado trabalhista. Na ocasião, favoreceu enormemente os candidatos do PT, pois fazia campanha por todos eles, inclusive Humberto Costa. E obteve grande votação. É, pois, com a maior surpresa que o vejo ser acusado de trair “a quem sempre lhe deu a mão”.
Não tenho qualquer motivo pessoal para falar a favor de Rands. Nunca votei nele (votei em Pedro Eugênio, por exemplo). Só trocamos cumprimentos sociais creio que uma única vez (mas me beneficio da hospitalidade de seu irmão Alexandre). O que, para mim, merece registro na atitude de Maurício foi ele ter abdicado de partido, e de cargos. Pois o hábito é de políticos saírem de partido, mas não renunciarem a mandatos, embora até se compreenda que não o façam. A invocação do samba de Beth Carvalho, passando a ideia de traição de Maurício Rands, revela pobreza de espírito. Ao mesmo tempo, querer atribuir a políticos paulistas ou a quem desfrute de elevados cargos na República a condição de grandes eleitores do prefeito do Recife, como se os detentores de título em Pernambuco fossem crianças bobas precisando de tutores, é de uma indigência mental extrema. Além de fazer a exaltação de extemporâneo autoritarismo.

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