sexta-feira, 3 de junho de 2011

Recife perdeu quase 400 mil m² de área verde em vinte anos

A perda da cobertura vegetal de 1986 a 2007 na cidade do Recife somou 397,2 mil metros quadrados. Essa conclusão alarmante consta da dissertação “Áreas verdes e clima urbano: A função socioambiental dos Imóveis de Proteção de Áreas Verdes na cidade do Recife”, realizada pela mestre em Desenvolvimento Urbano Karina Barros. No seu trabalho, a pesquisadora investiga a importância da conservação dos Imóveis de Preservação de Áreas Verdes (IPAVs), além de traçar um raio-x da situação dessas áreas no Recife. Sob a orientação da professora Fátima Furtado, a pesquisa foi realizada no Laboratório de Estudos Periurbanos do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU), do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE.

Segundo analisa Karina, a falta de áreas porosas contribuem para os chamados eventos climáticos extremos, que são as fortes chuvas e tempestades que causam enchentes e alagamentos criando, assim, um transtorno não apenas no clima, mas também no cotidiano da cidade. A preservação e a conservação das áreas verdes podem contribuir para uma cidade com melhor qualidade de vida, assim como uma preparação para enfrentar esses eventos e conviver com mais segurança em relação a suas consequências, alerta.

Inspirados em projeto semelhante já existente em Curitiba (PR), os IPAVs são uma iniciativa pioneira de proteção às áreas verdes instituída pelo poder público municipal em 1996, por meio da Lei do Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife. Reforçada em 2008 com o plano diretor, no qual foram considerados como Unidades de Equilíbrio Ambiental (UEA), foi criada a obrigatoriedade de preservar, no mínimo, 70% de toda a área verde existente. A primeira parte da pesquisa foi observar, através de gráficos com evolução de bases cartográficas, quais eram os IPAVs que estavam conservados, respeitando a lei e o plano. Foram, no total, 63 imóveis analisados, desde a criação dos primeiros até 2009 e 70% deles estavam em conformidade com a legislação, explica a arquiteta. Foram criados 56 IPAVs em 1996, quatro em 2004, dois em 2006 e um em 2009.

Na segunda parte do estudo, foram escolhidos os dez IPAVs mais bem conservados e os dez em pior situação, elaborando assim 20 quadrículas de 500 x 500 m² ao redor das áreas no período de 2002 e 2007. Nessa fase, foi observada a relação das áreas verdes com o seu entorno, com o objetivo de identificar os efeitos da perda da cobertura vegetal e a importância dessa área. Karina classificou os solos em impermeáveis (área cimentada e de coberta) e permeáveis (área verde e solo natural) com o objetivo de investigar a drenagem da cidade. Assim, foi constatado que, em cerca de 90% dos casos, a perda da cobertura vegetal diminui as áreas permeáveis, essenciais para a formação de aquíferos, influenciando o ciclo da água e a limpeza do ar.

Entretanto, mesmo com a clara importância desses imóveis, eles são poucos conhecidos pela população ou mesmo por técnicos de ambientes, da própria prefeitura e outros órgãos municipais. Para a pesquisadora,os IPAVs necessitam de mais atenção do poder público. “Os IPAVs nunca foram regulamentados, já que a lei só cita a criação deles, e não possuem monitoramento, que só ocorre casualmente, quando há denúncia. Portanto, é necessária uma gestão mais firme”, alerta a arquiteta.

Após a publicação da dissertação, em 28 de fevereiro de 2010, foram criados, em dois meses, mais 36 IPAVs na cidade, ação que não acontecia desde 2009. Além disso, o trabalho de Karina Barros foi destaque no 6º Seminário Internacional sobre Conservação Urbana, realizado em março deste ano pelo Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada. A conferência, que contou com especialistas de mais de dez países, objetivou discutir a preservação dos patrimônios históricos, seus métodos e tecnologias. “Quando as pessoas falam de patrimônio histórico, pensam muito em bens, áreas construídas, mas a natureza também é patrimônio. Uma prova disso são as árvores tombadas, que funcionam como memórias”, defende Karina Barros

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